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No início do século XVII, o navegador francês Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière, liderou expedições na região amazónica saindo de São Luís do Maranhão chegando em Cametá em 1613.

Cametá é considerado por muitos historiadores como a segunda cidade mais antiga da Amazônia, partindo da historiografia francesa na região, ela foi protagonista da partida do explorador português Pedro Teixeira ao desbravar a Amazônia e demarcar esse extenso território para o Reino de Portugal, a cidade é apelidada de “Cidade Invicta” devido à resistência contra a revolta da Cabanagem, já foi capital da Província do Grão Pará, conhecida também como terra dos notáveis, terra onde nasceu um dos maiores rabinos da Amazônia, o rabino Abraham Hamu, essa comunidade Israelita de Cametá  chegou a ter mais de 7.000 judeus (Veltman, 1983: 4), enterrou mais de 76 judeus nas frias e velhas sepulturas do seu cemitério judaico construído no final do século XIX, sem falar dos que dormem no antigo Cemitério “Lampadosa” que havia desde o século XVIII e fechado após a epidemia da cólera em 1855, não há mais registros ou qualquer revência de quem são as sepulturas.

A chegada dos judeus na Amazônia se dá com as aberturas dos portos as nações amigas assinado pelo príncipe regente Dom João VI em 28 de janeiro de 1808, pouco depois de chegar ao Brasil fugindo das tropas napoleônicas. Muitos judeus imigram para a região ainda neste ano, como um ramo da família Cohen que chegaram em Cametá por volta de 1810 e se dedicaram no comércio das drogas do sertão no rio Tocantins. A presença de imigrantes sefarditas na região se acentua anos depois com a presença de novos pioneiros e famílias que sonhavam com liberdade, segurança, prosperidade e riqueza na região Tocantina-Amazônica.

 A Sinagoga dos Hebraicos de Cametá incialmente se chamava בית השלום (Beit HaShalom) ou simplesmente בית שלום (Beit Shalom), que significa “Casa da Paz”, foi uma das primeiras sinagogas estabelecidas na Amazônia brasileira, datada entre os anos de 1824 ou 1825, pois a data é divergente entre historiadores e locais, há quem diga que as reuniões aconteciam desde 1818, mas é mais logico que a data da constituição do espaço de culto seja entre as datas de 1824 e 1825, isso porque a promulgação do Artigo 5º da Constituição de 1824, por D.Pedro I: afirmava que “a religião católica apostólica romana” seria a oficial, mas que “todas as outras religiões” seriam permitidas, após a promulgação dessa tolerância logo os serviços religiosos passaram a ser comunitário no salão aos fundos do prédio comercial com arquitetura colonial portuguesa localizada na primeira rua da cidade, pertencente à família Cohen, seus fundos eram ligados ao antigo trapiche de pedra do século XIX que ainda existe, onde atracavam os barcos, regatões, canoas e navios na cidade, que posteriormente a erosão e as cheias a Sinagoga foi traga pelo rio Tocantins, os antigos relataram que na Sinagoga havia dois rolos da Torah, não se sabe se a família Benchimol levou para a Sinagoga de Manaus, mas os relatos da família Azancot foi que os utensílios, moveis e uma Sefer Torah foram recuperadas pelo Sr. Abraham Jacob Azancot e encaminhada para a Comunidade Israelita de Belém.

No final do século XIX, os judeus já dominavam parte do comércio local, tornando-se também protagonistas da elite e da política da região. A sinagoga, que funcionava discretamente nos fundos do comércio Casa da Paz desde 1888, passou a ser pujante — um espaço onde judeus de todas as origens, ricos, caboclos ou ribeirinhos, rezavam lado a lado, refletindo a ausência de discriminação. Entre histórias de lutas e superação, a única alternativa era a construção de uma comunidade integradora. Assim, foi estabelecida uma ישיבה (Yeshivá), administrada pelo Sr. Isaac Melul, dedicada ao estudo da Torá, Tanach, Talmude, hebraico e francês, aberta a todos.

Inclusive o ilustre escritor e pintor Victor Tamer, filho de libaneses, antigo membro da Academia Paraense de Letras (APL), foi amigo de Isaac Benmuyal, onde cita em suas crônicas a sua aventura de ir aos Shabat a Sinagoga de Cametá junto com os filhos do Sr. Jacob Matias e de estudar francês com o Sr. Isaac Melul.

Em 1903, o espaço é adquirido pela comunidade, passando a ser um prédio exclusivo para os serviços religiosos e festas com o nome “Bet HaShalom”, mas os gentios a chamavam de “Sinagoga dos Hebraicos”, é possível ver ainda nos registros antigos da prefeitura de Cametá que estão no museu da cidade tal referência.

 

A comunidade judaica de Cametá e adjacentes tinha um número expressivo me membros que englobavam também na época as famílias das cidades e localidades próximas interligada pelo rio Tocantins: Baião, Mocajuba, Ilhas de Saracá, Ara’naim (Limoeiro do Ajurú), vila de Carapajó, Vila do Tocantins (Vila do Carmo), rio dos Cohen (Guajará de Cima), rio Furtado (Onde nasceu o Rabino Hamú) e dezenas de ilhas que há no rio Tocantins.

A comunidade judaica de Cametá e Mocajuba era uma comunidade muito numerosa composta inicialmente pelos ilustres: Abraham Bensiman, Isaac Cohen, Elias Bemuyal, Abraham Amzalack, Isaac Melul, Leão Melul, Abraham Larrat, Jacob Matias, Abraham Benassuly, Mauricio Elarrat, José Benarrosh, Dona Fortunata, David Sicsú, Abraham Bensi, Valentim Xavier Alves, José Cohen, Miryam Benassuly, Estrela Ben Dilad, Adolpho Lemos de Souza, Salomão Zagury, Abraham Bensimon, Alexandrino Chaves, Isaac Sabbá, Carlota Sabbá, Moyses Cohen, Rubem Israel, Isaac M. Elarrat, Haim Obadia, Pepe Morchluf Larrat, José Moyses Benoliel, Salomão Abraham Nahmias, Nissim Obadia Mar Moshe, Jacob Obadia, Salomão Tobelem, Jacob Athias, Jacob Cohen, José Benarrós, Isaac Benassuly, Simy Foinquinos, Reina Sicsú, Moyses Nahmias Bar Yehoshua, Jacob Azancot, Moyses Jacob Israel, Menasses Cohen, José Abensur, Rachel Bemuyal, Abraham Jacob Azancot, entre outros membros das Famílias ainda não catalogadas; Abecassis, Abensur, Alburquerque, Alves, Amzalak, Athias, Azancot, Azulay, Bemuyal, Benahon, Benarrós, Benarrosh, Benassuly, Benchimol, Bendelak, Benmuyal, Benoliel, Bensaquem, Benshimon, Bensiman, Bensimon, Bentes, Benzecry, Bermeguy, Bohadanna, Bonina, Carvalho, Chaves, Chavier, Cohen, David, Elarrat, Ephima, Favacho, Foinquinos, Hamú, Israel, Laredo, Larrat, Leão, Lemos, Levy, Manesch, Mathias, Melul, Moreno, Nahmias, Nahon, Perez, Perla, Pinto, Sabbá, Sarraf, Sefarty, Serruya, Sicsu, Tobelem e Zagury.

Atualmente, ainda se encontram resquícios dessa imponente comunidade judaica na Amazônia, como é o caso das formação das duas grandes vilas de Cametá que foram fundadas por judeus marroquinos; Vila do Tocantins (Vila do Carmo) fundada pela família Laredo e vila do Carapajó fundada pelo Sr. Santino Cohen, além de edificações, cemitério, símbolos religiosos, a Sinagoga Hashalom em Mocajuba e as histórias das milhares de pessoas que carregam os sobrenomes dos pioneiros Sefarditas que ainda assimilados e aculturados ainda dizem com orgulho que são “judeus” sem saber o que a religião representa, ainda existe no fundo desses milhares uma alma judaica, sem oportunidade e pouca esperança de retorno à fé de seus antepassados.

A saga do restabelecimento e a restauração da antiga Sinagoga de Cametá e Mocajubase deu-se pelos descendentes desses pioneiros como filhos, netos e bisnetos apelidados de Bnei HaKehilah (בני הקהילה) que significa literalmente “Filhos da Comunidade”. O caminho do retorno começou em 2010 quando algumas poucas familias decidiram primeiramente restabelecer a história desses israelitas, logo o grupo se interessou a estudar a Torah, Tanach e Hebraico. Aos poucos alguns remanescentes foram voltando ao judaísmo tradicional, dentre essa continuação se destacam o esforço de judeus norte-americanos, israelenses e europeus descendentes dos pioneiros da antiga comunidade judaica de Cametá e Mocajuba que incentivaram o retorno dessas famílias que hoje restabeleceram a antiga comunidade e Sinagoga e se religando a Israel.

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